IGUAL À CIGARRA

Tarareando abro a cancela

E penso no rumo da vida,

Não tem carreira perdida

Pra quem corre junto dela;

E sendo a cancha comprida,

Eu meto patas com ela!

Numa mangueira de quina

Só pealo de sobrelombo.

Não sei quem leva mais tombo

Se o gado ou eu nesta sina.

Nem pude dar c’os costados

Nas “criollas” da Argentina!

Um truco é o que me amarra,

Com flor meu verso é bonito!

Nunca alguém me viu solito

Sem pingo, cusco e guitarra,

Cantando igual à cigarra

No velho pago bendito!

Um laço de quatro tentos,

Arreio forte e cachorro;

Pelas chapadas e morros

Com eles tiro o sustento.

Bem de a cavalo num mouro,

Tranqueando de contra o vento!

Neste mourito tapado

Encurto a querência grande,

E quando a alma se expande

Num rodeio do outro lado,

Eu vou sem ter quem me mande

Pra rosetear um aporreado!

Ramiro Amorim
Enviado por Ramiro Amorim em 02/05/2009
Reeditado em 02/05/2009
Código do texto: T1571389
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