AMANHECER PANTANEIRO
Por detrás da planície
o sol varre a noite
e com mãos douradas
estende sua luz no varal do dia.
A manhã se espreguiça bocejante
na varanda natural.
Casas pantaneiras abrem os olhos
e espiam a natureza
espalhada em tapetes de orvalho.
Fumaça de chaminés
denuncia fogo em fogões a lenha,
com perfume de café.
Aves em revoada
abandonam ninhais de veludo
e em ritual ensaiado
buscam a primeira refeição.
Jacarés sonolentos,
l e n t o s
esparramam-se no beiral das águas
e cobrem-se de sol.
A cantiga do riacho
desperta sucuris
e embala a dança de peixes
em aquáticos balés.
No campo
a boiada norna passeia
e pinta de branco a bucólica paisagem
chamando o peão à lida.
E o valente peão pantaneiro
ensaia uma prece
a Deus e à Virgem Maria.
O pão nosso ele agradece
e vai tanger
o novo dia.
Da Antologia "Caminhos" - p.51 - Edição 2002