Devaneios

Um certo dia de outono

Vendo as plantas se despindo

Pude sonhar que enxergava

E jurar que estava ouvindo

Um florir espreguiçado

De uma flor que vinha abrindo

Com pétalas perfumadas

E cor de rara beleza

Encantando os passarinhos

E o resto da natureza

Quando ela desabrochava

Irradiava leveza

Nisso, uma folha operante,

Que estava noutro raminho,

Olhou pra flor, exaltada,

E disse, com escarninho:

Você não serve pra nada,

além de soltar cheirinho.

A flor, de forma dolente,

Girando muito elegante,

Fez jorrar um jato forte,

Para a folha farfalhante,

Espraiando seu perfume,

Certamente estonteante.

A folha deu um espirro,

A seguir vociferou:

Jogue pra lá esse cheiro,

Dê pra quem nunca cheirou

E não deixe de avisar

Que quem cheirou se irritou.

Depois do sonho sonhado,

Ao livre sabor do vento,

Avistei-me extasiado,

Pela cena do momento,

Vendo a folha elaborando

E a flor com deslumbramento.

Isso revela pra gente

Que o que devemos fazer

É projetar na semente

O que queremos colher,

Zelando a folha da vida,

Para um florir merecer.