AQUECIDO CORAÇÃO
Antes de nascer o sol, o galo cantou no moirão,
Aconcheguei minha prenda mais perto do coração.
Só a cabeça de fora e o frio ardendo as narinas.
Me recostei mais um pouco no calor da bela china.
Mas levantei finalmente, sem querer ter te deixado.
Beijei teu rosto sereno, num sono despreocupado.
Amanheceu e a lida me espera lá na invernada.
Enfrento a geada fria pra sustentar a gurizada.
Da porta do rancho avisto a paisagem branquicenta.
Os bichos todos encolhidos, de tanto frio não se agüenta.
No fogão, o fogo, a lenha e o chimarrão já cevado.
Mateamos junto ao braseiro lembrando causos passados.
São belos dias que a vida tem nos dado neste pago.
O rancho e três piazitos, uma prendinha e dois guapos.
Mesmo a lida nos alegra, pois dela se faz poesia,
Apesar do minuano que se enfrenta certos dias.
Após a doce mateada, tu cuidas do nosso rancho.
Pensando em ti, lá no campo de saudade me desmancho.
Batendo queixo de frio, mas suportando o repuxo.
Por viver para a família, que é a razão deste gaúcho.
Wilson Amaral