PAMPA POBRE II
Acendendo o dia, desponta o sol atrás dos montes,
Clareando a verde campina, desabrochando o horizonte.
Acordo outra vez pra vida, pra doce lida do campo,
Na romântica querência, este gracioso recanto,
Lugar no qual eu nasci, a terra que Deus me deu,
Onde viveu minha gente, onde meu sonho cresceu.
Meu Deus, este Criador, que deu o mundo sem fim,
Fez a terra grande, fértil e o mar imenso assim
Pra que não faltasse a vida, pro Pedro nem pro João;
Pra que a nenhum de Seus filhos vivesse a faltar o pão,
Nem tivesse que roubar ou matar os seus iguais,
Mas ter a dignidade, seu canto, respeito e paz.
Este lugar que te falo, vivente amigo querido,
Se trata do meu Rio Grande, pois daqui eu sou nascido.
É uma terra mui buena, deste povo hospitaleiro,
Afamado pelos pagos e nos sertões brasileiros.
Mas terra de poucos donos, grande parte se amontoa.
Nossa terra é mesmo o asfalto, se pagar uma grana boa.
A maioria, meu velho, ganha salário minguado.
Nem tem mais lida na terra, pouco há cuidar do gado.
Quem lida agora no campo é a máquina sem alma,
Que não tem rancho e família, jamais carece de pão,
Desemprega a gauderiada, enxota pra cidade,
Onde vão viver nas praças, expulsos da sociedade.
E o que dizer da indústria, onde o PC desemprega,
Faz filas de desemprego, salários de fome agrega.
É gente pobre daqui, miséria e choro de lá,
Indignação de um lado, gente a se desesperar.
E poucos a rir-se a toa, com riqueza em demasia,
Escravizando os patrícios, explorando a maioria.
Mas te digo companheiro, não penses mal do Rio Grande,
Aqui tem gente buenaça, alegria até se expande.
Uns poucos são avarentos, donos da terra e de tudo,
O povo curte o futebol, churrasqueia e fica mudo.
Mas pergunto, amigo velho, como alterar nossos dias,
Se já no tempo antigo reinava assim a tirania?
Resta gostar do que é bom, desta gente sofredora.
Povo que sonha e trabalha, nem por muito se apavora.
Nosso Rio Grande é bonito, muitos poetas disseram
E o sangue de muitos guapos nos prados se derramaram,
Querendo justiça, igualdade e fartura pros viventes,
Engrandecendo este pago, honrando esta gente.