AS LAVADEIRAS
Segunda-feira, como de costume,
e como se combinado fosse,
todas se perfilavam:
lata na mão,
sandália arrastão nos pés,
saia rodada, vestido de chita,
cabelos alinhados para acomodar a trouxa na cabeça,
como se se enfeitassem
para uma festa grandiosa.
Lá iam as lavadeiras,
cantarolando à sua sorte,
à beira do Jequiriçá
para seu sustento tirar.
Em meio a tantas dificuldades,
elas contentes ficavam
ao traduzir suas mágoas,
seus anseios nas variadas modinhas populares.
Eram músicas de apelo, de dor, de desejo e até inventadas
por elas mesmas,
dependendo da ocasião,
e, num momento de inspiração,
para determinar sua grandeza.
Elas passavam, uma a uma,
e, eu, ainda pequenino,
me portava de pé
para ver a alegria reinar
nas vozes daquelas mulheres
na esperança do aguardar.
Tunin/
Ilhéus/2008