O FUGITIVO DO SERTÃO

O FUGITIVO DO SERTÃO

Terra de gente hospitaleira

É o nordeste brasileiro

Mas é pena ver tanta tristeza

No rosto desse povo guerreiro.

Já vi de tudo no sertão,

Gente comendo xiquexique

Outros sem água pra beber

Criancinhas padecendo de desnutrição.

Quando chove dá de tudo,

Mas chuva é raridade,

Políticos ganham eleição,

Porque a água dada supre a necessidade.

Quando se aproxima da votação

Cada político compra um carro-pipa

Pois é só dá água pro sedento

Que ta ganha a eleição.

Quem não sabe o valor da água,

Vá morar onde não tem

A falta dela mata tudo

O pasto, a vaca e o vem-vem.

Com a água se faz tudo,

Lava a roupa, o corpo e mata a sede

Dá vida aos bichos e as plantas

Quando a chuva cai até o chão fica verde.

De tanto sofrer o sertanejo pensa em fugir

Pois na sua terra não há vida

Não há água nem pasto

E ver suas vacas sem ter o que engolir.

É duro ver tudo morrendo de fome,

As vacas magras sobre o jirau,

Os adultos se lamentando

Os anjinhos partindo ainda sem nome.

Muita gente à seca resiste

Faz açudes e guarda as sementes,

Mas eu não tinha condição

Tive que procurar outros horizontes.

Pela escassez eu fui expulso,

Fiz tudo o que eu podia,

Tentei sobreviver no sertão

Mas vi que ali não sobrevivia.

Pra Amazônia vir com esperança,

Aqui não falta chuva e o verde é permanente,

A água límpida de tão farta não tem valor

Dos tempos de seca só tenho a lembrança.

(IVAN LOPES, 2004)