TRISTEZAS DE UM CABOCLO
TRISTEZAS DE UM CABOCLO
Marcial Salaverry
Passeando pelo sertão,
parei num bar prá pedir informação,
vi um caboclo numa tristeza de cortar o coração...
Num desabafo, falou enquanto tomávamos o "pingão"...
"Seu moço, vancê num pode carculá,
u pruque dessa tristeza no meu oiá...
Fais uns tempo... nem gosto di si alembrá...
Taveu aqui, prás pinga tomá,
cando a água garrô a dispencá...
Tanta da chuva qui Deus arresorveu di mandá...
Era tanta das água, qui arresorvi esperá,
prá mode a chuva passá...
Ficô mai de duas hora, inté tudo si acarmá,
Preu podê minha casa percurá...
Seu moço... sinti u mundu si acabá...
E num é qui num consigui mai nada encontrá...
Minha casa... as água tinha levado...
Minhas prantação... tinha se acabado...
Casi murri... di tão disisperado,
cando vi qui as água tinha levado
minha famia todinha... fiquei agoniado...
Minha Maria... qui tanto ieu tinha amado...
Meus fio... qui inda nem tinha criado...
Ah!!! seu moço... tanto tenho chorado...
Só nas pinga é que tenho mi consolado..."
Entendi a razão de sua tristeza... mas segui viagem,
levando desse caboclo triste, a imagem...
Pensando que apesar de toda sua beleza,
Também é capaz de maldades nossa querida Mãe Natureza...