INVERNIA
O touro pampa berrou, saudoso da primavera.
A invernia é de espera... espera de verde e cio.
Na margem oposta do rio cuida o passo das novilhas
Que vão em tortuosa trilha, culatreadas pelo frio.
E o meu zaino rabicano que cuida até o pensamento,
Não faz conta deste vento que arrepia as barrancas.
Relincha para as potrancas lá do rodeio pelado
E caminha emposturado com o laço a bater na anca!
O agosto repete o quadro, aquarela aquebrantada.
Banhado: vaca atolada, terneiro: seco de magro!
Invernia abarbarada, neve branqueando a soleira,
O charque já na rabeira, a prateleira sem trago...
Sigo toreando este inverno com meu bichará franjado,
No zaino sempre “amilhado” co’a esperança por sinuelo.
E as reses do mesmo pêlo, recorro quebrando a geada
Que congela até as aguadas e me entordilha o cabelo.
Faço uma prece de campo sobre o lombo do zaino.
Peço clemência ao tirano que canta nos aramados!
Porque se perder o gado, que já vale quase nada,
Perco a paz das campereadas neste meu pago sagrado.