Nas brenhas do sertão
NAS BRENHAS DO
SERTÃO
Sertanejo
convive diuturnamente
com a morte
sol castiga-lhe
sede
anda léguas
de chão rachado
corpo esquálido
faminto
contam-se as costelas
sem comida
escuridão da noite
só o vagalume no mato
candeeiro em casa
nos terreiros, o mentiroso
contando estórias
mulher morrendo de parto
criança com “doença de
menino”
barriga grande, verme
rezadeira com galhinho de
arruda
anjinho levado na rede
ao cemitério
vaqueiro cego de um olho
perdido nas pelejas
da caatinga
boi fujão
pouca água barrenta
das cacimbas
carregada no pote
À Novena do Sagrado Coração
beber aluá
comer sequilho
água benta, males afastar
caminhar uma, duas léguas
ir à missa no domingo
capelinha
Morreu o fazendeiro
as mulheres cantando
as “incelenças”
ir pro céu
morrendo a cada dia
com a cuia
na mão.