TUDO NA VIDA

Criado ao sabor dos ventos

Na lida buena da estância,

D’em pêlo passou a infância

Sem angustias ou lamentos.

Depois, taludo, mostrava

Perícias de homem campeiro.

Floreando um tostado oveiro

De pronto se apresentava.

Na mesma estância viveu

Até branquear os cabelos.

Pros pingos de todo pêlo

Ensinou o que aprendeu.

Ganhara na cancha reta

Um mouro salgo bragado,

Flete de andar entonado

Quando chegava nas festas.

O pingo, tudo na vida!

Parceiro, – quase um irmão –!

Mirando a mesma amplidão,

Suando na mesma lida!

Quando a estância foi vendida

Perdeu no campo o abrigo,

Sobrou-lhe o flete amigo

E uma saudade doída!

De uma pontinha de gado

Fez um ranchito na vila.

O tempo roeu os pilas...

Vendeu o mouro bragado!

Todo dia, acordava,

E com as pilchas de campeiro

Caminhava até um potreiro

Onde o bragado ficava...

E com os olhos fechados

Tropeava e cortava campos,

Voava com os pirilampos

Pro lombo dos descampados.

Ramiro Amorim
Enviado por Ramiro Amorim em 11/08/2008
Código do texto: T1122495
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