TUDO NA VIDA
Criado ao sabor dos ventos
Na lida buena da estância,
D’em pêlo passou a infância
Sem angustias ou lamentos.
Depois, taludo, mostrava
Perícias de homem campeiro.
Floreando um tostado oveiro
De pronto se apresentava.
Na mesma estância viveu
Até branquear os cabelos.
Pros pingos de todo pêlo
Ensinou o que aprendeu.
Ganhara na cancha reta
Um mouro salgo bragado,
Flete de andar entonado
Quando chegava nas festas.
O pingo, tudo na vida!
Parceiro, – quase um irmão –!
Mirando a mesma amplidão,
Suando na mesma lida!
Quando a estância foi vendida
Perdeu no campo o abrigo,
Sobrou-lhe o flete amigo
E uma saudade doída!
De uma pontinha de gado
Fez um ranchito na vila.
O tempo roeu os pilas...
Vendeu o mouro bragado!
Todo dia, acordava,
E com as pilchas de campeiro
Caminhava até um potreiro
Onde o bragado ficava...
E com os olhos fechados
Tropeava e cortava campos,
Voava com os pirilampos
Pro lombo dos descampados.