TECENDO A VIDA
Corneta afiada, chamando na lanolina,
É a clara sina do campeiro tosador,
Que no trabalho, tchac-tchac, da tesoura
Vai compassando uma cantiga de amor.
Vê seu piazito, como ele, agarrador,
Num sonho lindo, sem tropeço ou escarcéu,
Pois o rebanho que pasta no campo verde
É igual as nuvens que vagam no azul do céu.
Carda que carda, fia que fia.
Tear de trama, arte na mão,
As franjas claras segue desfiando,
Arrematando com o coração!
Carda que carda, fia que fia.
Tear de trama, arte na mão,
A urdidura conserva pura
Esta cultura do nosso chão!
Os “becos” berram”, sonorizando a mangueira
Lenço a cabeça, no altar da tarimba antiga.
Bolsas se enchem de sonho, lã e esperança
E nenhum talho vem daquela mão amiga.
Velos lavados, dançam sobre o alambrado,
No embalo suave do vento primaveril,
A Dona Ilusa vai fiar com toda a calma
Na velha roca, para os dias de frio.
Desde a tosquia até o nó de arremate,
Entre um mate e um sorriso fraterno,
Está a alegria que vai tecendo a vida
E os bitangos para escorar o inverno.
E no milagre da urdidura dos teares
Surgem baixeiros, mantas, faixas, bicharás...
Rebanho fino, campo bom, sem carrapicho
E uma pitada de capricho é a receita do lugar.
Melodia de Beto Ventura