Vida Afinada
Este manejo de rédeas e laços,
De atar bocal e de por freio duro,
É o passado vivo no que faço
E que me leva a enxergar o futuro.
Guardo no fundo dos velhos pessuelos
Sonhos há muito contados na tarca;
Uns que engordaram e lustraram o pêlo,
Outros judiados que “borraram a marca”.
Campo afora, reflito meus erros,
Enquanto acerto a boca dos cavalos.
Vida balança na cola dos perros...
Vida afinada no canto dos galos!
Só quem nunca segredou com a vida
Tem mais renhida a fieira dos dias
A vida afaga em sopros de esperança
Semear confiança é colher alegrias.
Há meu suor na lavoura que planto;
Há meu suor no gado e na potrada.
Cheiro de pasto no verso que canto,
E acordes doces pra lembrar a amada.
Mirando ao longe o gado disperso
E o sol prateando nas velhas lagoas;
Me vou ao tranco pensando num verso
Que seja bueno, como a vida é boa!