Professor de História

Quando eu conto

Que nesta terra

A nudez era tão natural

E que o pecado e a malícia vieram de longe,

A bordo de treze naus

Quando eu conto

que os corpos nus

Mirados pelo vento

Vestidos com a inocência

Foram violados por olhos cúpidos

Ultrajados por olhos sedentos

Quano eu conto

Que trouxeram tantos deuses

Novas crenças, todas vãs

Eu já tinha minha fé

Eu já tinha meu pajé

Eu queria trocar meu Tupã?

Quando eu conto

Que o Deus que aqui chegou

Trazido do além-mar

Viajou com o invasor?

Com certeza na primeira maré

Levou um à proa, e o outro se pôs na ré

Quando eu conto

Que tanto se fez

Em nome de uma fé

Matou-se, vestiu-se

E levou o que da terra se apanhava

Para uma desconhecida e longínqua Sé

Quando eu conto

Que para cá trouxeram a Cruz

e contaram seu significado

E sem que ficassem chocados

Cruzaram os corpos mortos e despidos

Com corpos mortos de meninos nus

Quando eu conto

Que tudo que eu conto é verdade

Ah Tupã. que impunidade!

Já não existe Tupi, Tapuia ou Timbira...

Podia ser tudo um conto

Podia ser tudo mentira

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 21/04/2008
Código do texto: T954997
Classificação de conteúdo: seguro