Minha terra tem gente SRD
Sem Raça Definida.
Somos todos vira-latas.
Já dizia Nelson Rodrigues.
E, se não fosse um complexo
Seria fácil demais.
Não tem gôndolas iguais a Veneza.
Nem óperas e operetas.
Mas, lá existe a beleza.
Há batuque vindo do fundo da escravidão.
São grilhões rítmicos a quebrar-se
com balançar com as ancas.
Ou com força da sofreguidão.
Minha terra tem exércitos.
Tem gente capaz de matar com um piscadela.
Tem séquitos desuniformizados.
E, tem sanduíche de mortadela.
Minha terra tem muitos morros e favelas.
Tem frutos e flores bonitas.
Tem calças com muitas fivelas.
E, tem muitas criptonitas.
A tirar o fôlego da gente.
A nos banir a esperança.
E, lá se vai nossa alma de criança.
Passar bem rente
a tudo que preenche a saudade.
Minha terra tem gente engraçada.
Tem risada, piada e palhaço.
Tem gente pobre e amaldiçoada.
Tem mortalha, cobre e toada.
Tem batalha, sorte e bordoada.
Amo minha terra.
Com seus vícios e vicissitudes.
Com seus defeitos e efeitos.
Lá eu nasci.
Nasceram também os meus.
E, a solidão das sombras
Faz lembrar apenas das virtudes.