Gigante Adormecido
Onde o honesto é cada vez mais raro,
a conivência reina e de tudo acha graça
Barganha-se até o mais caro
Dignidade, subtraída plena praça.
Ideal perdido, ignorância cega
Fanatismo útil com suas certezas falsas.
Pobreza material e miséria de espírito,
Ecoam em amplos sentidos pela vastidão das nossas terras.
Para a pátria amada, apenas desdém e falta de lisura,
Enquanto os seus filhos fogem à luta,
sob toda a sorte de pancada.
Tudo lhes é tirado sem receio de censura,
Voz de protesto na subserviência sepultada.
Ah, Brasil, tão rico e miserável, desde o seu berço esplêndido,
Do lábaro estrelado à lama mais escura,
Sem inocentes debaixo do céu furtivo, tempos distintos, sempre mais do mesmo.
Bravo povo entorpecido, educado a disfarçar apatia com sorrisos.
Promessas descumpridas, heróis vendidos, mentiras consentidas,
clamor contido, desgovernos.
E tanto faz se é direita ou esquerda, a corrupção no paraíso é versátil ambidestra.
Qualquer um dos nossos eleitos, pelo preço certo há de abrir as pernas.
Problemática e pacífica aldeia continental, ainda praticando o escambo com espelhos desde a costa até o planalto central.
Sociedade doente, desigualdade em plural.
O futuro é incerto, o presente é batalha.
Mas ainda não terminamos.
Então, acorde gentil gigante, assuma a sua alma.