(IN)VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA
O que seria da nossa vida senão
A imperfeita coerência
Da síntese das sinestesias
Da louca emoção, da tola razão,
Atrofiando a essência
De singulares geografias?
O que seria desse Brasilzão,
País outro reconhecido
Ao invés de colonizado
Haveríamos de sermos vil,
De outra maneira que seja
Ao invés de escravizado?
Haveríamos de termos anos a mil
Frente a quem não reconheça
No corpo mutilado dos trópicos
Haver mais que pernas, braços,
Haver também valiosas cabeças?
Nossa riqueza, valor indecifrável,
Seria assim melhor do que foi
Até agora catalogado, pesquisado,
Encontrado, desenterrado...
Pois, quebraríamos
Com o arco do destino
Que permanecesse
Mirando sua flecha
Rumo à miragem
Do progresso infinito
Novos paraísos,
El Dourados fictícios?
O que seria se perdêssemos
De repente o chão
E não tivéssemos mais
Uma boba explicação
Lugar comum de ir e vim
Ou qualquer outra salvação
Capaz de encerrar com o medo
Do que, cedo ou tarde,
Teríamos perplexos de admitir
A vida prosseguida pelo avesso
Da direção de quem sempre quis
(In)voluntário da pátria ajudar-nos?
O que seria se não teríamos
Disponíveis o refúgio
De hipócritas pessoas
Com quem poderíamos
Narcisistas se confundir?
Negando do país famílias inteiras
Pais, mães, irmãos, filhos
Nascidos órfãos não só de sangue
Como também de espíritos?
POEMA: ANTONIO GUSTAVO