Mártir
Dentre todos os vazios, o da minha existência foi o que mais doeu
Hoje não terá mais prosas...
Pois estou exausto de tanta hipocrisia
Era pecado escrever suas crenças?
Hoje desconfio das bondades que brilham os holofotes
Pois nunca vi o mesmo brilho em becos escuros
Também temo os que se denominam "boa gente"
Pois os rumores o descreveram como "carrasco de inocente"
Esse texto é de papel amassado
Que passa na mão e é pisoteado
Feito panfleto de boca de urna
Que fez o sonho do pobre ser comer carne crua
Só me resta uma dose de meu vinho
Que foi requentado em meio à papelada
E manchou o recibo de mais uma residência comprada
E virou manchete de "jornal da esquerda"
Também conhecido como fake news pela ralé que ignora a sarjeta
Talvez exista liberdade de expressão
Mas apontar pro senhorio irrita seus escravos
Que ameaçam atirar com suas armas figurativas
Aquele que das sombras se cansou de olhar
Escutam grilhões através do baixo salário
Não existe escravidão com senhorios de chicote
Mas o mesmo corta a verba se achar necessário