Nunca Mais Outra Vez
As moedas que empunhas não eram um símbolo
Mas a interpretação que tu fazias da vida
Corrompida pela promessa tardia de prosperidade
O feitiço material que come e comove os homens
Às vezes sonhos nos escapam como rosas murchas
Há algo que resiste as pretensões do surrealismo
E esse espelho de sensatez, engole-me toda a noite
Em que me empenho em performar liberdade nas ruas
A filiação é emprestar os sentidos
O que me mata é abominável, horrendo
O que me ama, é zeloso e prático
Aquilo que evito é fruto e o inimigo
O inferno precisa de suposições para confabular
Nomes, preferências, estatísticas, estigmas
Principalmente, candidatos, suas vergonhas e tabus
Não se engane, o inferno é aqui. Não há nada pior que a vã existência
O que deveria ser desejo e desorganização
Entalha sucessão, traumas e despedidas
O inevitável era o óbvio azul da primeira hora da noite
Sob a impotência da língua dizes: A espreita, bom doutor
Onde estão os incendiários do pudor e ética?
Os quero em minha mesa, cerrando meu corpo
Bebendo do meu sangue, invejando meus olhos tardios
Contemplando meu eterno desajuste em atos de carnavais
Engole o delírio, cerre os punhos
Mastigue a língua, rejuvenesça os dentes
O corpo trajado à ferramentas do culto
Se falhares, compre a anorexia de uma vez
Querer viver nas abóboras que ainda sonham
Seria tão criminoso assim no ano da anistia de cadáveres?
O esquecimento é a pólvora escorrida da angústia
Eu sou o mapa de minhas dores, não negocio essa vocação com transeuntes...