BRASIL
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Eu confesso que muitos dos canais
Que correm na minha alma
São canais de Veneza e de Bruges.
Confesso também
Que grande parte da névoa que tolda
O meu céu interior é névoa da mesma
Veneza, da mesma Bruges
E das charnecas de Álbion
E que muitas das folhas que tombam
Nas alamedas do meu coração
São folhas dos plátanos e castanheiros
Da velha Paris e dos bordos
Dos jardins do longínquo do Japão.
Confesso, ainda, que parte considerável
Da fria chuva que cai dentro de mim
É a mesma chuva que caiu outrora
E no passado ainda cai
Sobre os bulevares da Cidade Luz
Da Belle Époque, sobre os becos da Londres
Da Era Vitoriana e sobre as avenidas
Da Cidade de Nova Iorque da Era Dourada.
Devo dizer, porém, que ao lado
Dos outonais e brumosos canais
De Veneza e de Bruges que correm
Na minha alma, correm também
O igualmente outonal e brumoso canal
Da Imperial Cidade de Petrópolis
E os estivais e ensolarados canais
De Santos e de Recife.
Do mesmo modo, a maior parte da névoa
Que tolda o meu céu interior é névoa
Das serranias dos Campos do Jordão
E de São Bento do Sapucaí,
De Paranapiacaba e de Petrópolis,
Da Canastra e de Itatiaia,
E, é claro, da São Paulo e do Santo Amaro
Dos dias d’antanho,
Dos perdidos dias que não vivi,
Mas cuja lembrança levo guardada
Na veneranda arca da minha saudade.
Da mesma forma, por fim,
Muitas das folhas que tombam
Nas alamedas do meu coração
São folhas dos plátanos e liquidâmbares
Dos Campos do Jordão
E dos plátanos há muito extintos
Das aristocráticas ruas e avenidas
Da Pauliceia do raiar do século
Em que nasci
E que a maior parte da chuva que cai,
Mansamente, dentro de mim,
É a mesma chuva que caiu outrora
E no pretérito ainda cai
Sobre as vias dessa antiga
E bela Metrópole do Café
Que a correnteza do rio do tempo levou
Para o mar do nunca mais.
Por mais que possa amar
Outras terras, amo e amarei sempre
Mais, muito mais
A Terra que me viu nascer,
A minha Pátria Terrena
Que a própria Lei Natural me ordena a amar
Com um amor só não maior
Que o amor votado
À Pátria Celeste.
Brasil! Comoção de minha vida,
Nova Lusitânia a unir todos os povos do Mundo
Nas selvas e campos da América,
Grande Nação Imperial do ontem e do amanhã
Que um dia, com a Graça de Deus,
Afortunadamente há de ser hoje!
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Santo Amaro, São Paulo, 14 de fevereiro de 2022.