POEMA DA CONSTERNAÇÃO
De repente fez-se caco, o que era diamante
Fez-se cacto, o que era flor
Fez-se indiferença, o que era amor
De repente fez-se pálido, o que era brilhante.
De repente fez-se deserto, o que era mar
Tornou-se inferno, o que paraíso
Tornou-se rugoso o que era liso
De repente fez-se selva, o que era pomar.
De repente fez-se inverno, o que era verão
Fez-se outono, o que era primavera
Fez-se pano, o que era bandeira
De repente fez-se crocodilo, o que era leão.
De repente fez-se calvário, o que era jardim
Fez-se desespero, o que era esperança
Fez-se tempestade, o que era bonança
De repente fez-se tristeza, o que era festim.
De repente fez-se mendigo, quem era patrão
Fez-se promessa do que seria o presente
Fez-se presente está dor insolente
De repente fez-se migalha, o que era pão.
De repente fez-se Diabo, quem era Santo
Fez-se pagão, quem era Jesus
Fez-se apagão, o que era luz
De repente tornou-se repulsa, o que era encanto.
De repente fez-se agitação, do que era a paz
Fez-se paz, do que era agitação
Fez-se o que se faz numa "sã nacão"(...)
De repente tornou-se cinza, o que era lilás.
De repente fez-se pimenta, o que era refresco
Fez-se burlesco, o que era sério
Fez-se por emoção, o que seria por critério
De repente fez-se pó, o que era gigantesco.
De repente tornou-se velho, o "Homem-novo"
Tornou-se de um, o que seria comum
Enfim, tornou-se espinho o nosso "atum"
De repente separou-se a clara da gema (do antigo ovo).
Sempre de pedra a pedra, levando pedrada
De sol em sol, nos golpes das mãos em punho ...
Haverá uma luz que brilhe, sim, um outro Junho
Mais pomposo e glorioso que qualquer fada.
De repente..."não mais que de repente"
"A mão armada" fez-se "a mão amada"
"A mão amada" fez-se "a mão armada"...
Vivemos feito relâmpagos(...) sempre de repente!
Quem olhar dentro de nós e ver algo, assim, eterno,
Será em sonho, ou numa simples imaginação...
Eu, por exemplo, veterano da reincidente desilusão,
Só acredito em mim sonhando-me sempiterno.
Octaviano Joba