Reconquista
Desce das rochosas Astúrias
Um povo desapossado de terra
Que sob a força coletiva das fúrias
Marcha para a Santa Guerra
Marcha de bandeira às costas
Marcha sobre a terra de Galiza
E entre mulheres e crianças mortas
Um sonho cristão se idealiza
Fez-se cravar a cruz e a coroa
Sobre o condado portucalense
E Deus as mortes perdoa
Pois por Ele o mártir se fez
E entre ser vassalo de leoneses
E pelos galegos cobiçado
Surge de entre os portugueses
Afonso Henriques, pronto e armado
De título "O Conquistador"
Em batalha, vence à sua madre
Para a Pátria fundar com amor
E em direção a Sul a reconquista parte
Ouve-se entre os vales do Douro
O cântico de um povo saudoso
Que afugenta o maldito mouro
Ouve-se "Portugal é nosso!"
Franceses cruzaram reinos, ducados e condados
Para em Lisboa fazerem corte
E quando os mouros presenciaram os cruzados
Tiveram a má sorte de se cruzarem com a morte
Desce pelas águas mornas do Tejo
O sangue do bárbaro invasor
Uma paisagem que invejo
Um indistinguível odor
A gloriosa cidade de Lisboa
Onde por muito durou o cerco
Onde vitoriosa saiu a coroa
Onde pelas ruas estreitas me perco
Ouve-se entre os blocos de pedra da cidade
O cântico de um povo feroz
Que grita com toda a felicidade
"Portugal somos nós!"
Mas o orgulho termina cedo
E a solitude acaba por findar
Quando os portugueses, sem qualquer medo
Decidem cruzar o mar
E carregam com eles a cruz
Como Jesus também o fizera
E Deus as naus conduz
Dando início a uma nova era
Pois a reconquista não fora suficiente
A cobiça humana é tanta
Dá-se a conquista de nova gente
Uma nova missão santa
O que não se faz em nome da fé?
Tudo tem desculpa divina
Deus olha mas finge que não vê
Em nome Dele, quanta chacina
Deus ouve mas finge não ouvir
As súplicas entre o choro e baba
E num jogo sádico consegue decidir
Quem morre e quem se salva
Deus sente mas finge-se insensível
Sentado no reino de bordados finos
Quando com a dele mão invisível
Arbitrariamente traça destinos.