interlúdio (22 de abril)

interlúdio

para Fernando Pessoa

— "É a que ansiamos. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri."—

Eis a tua própria distância

Este o mito que alcançastes

Dilataste tuas estâncias

E um brasão de sol alçastes

(Portugal, de uma mão continental)

Dá o etéreo do que tiras

Deixa o ouro do teu barro

Leve o fel que o doce vira

Quando o ocaso impele o carro

(Portugal, dá-nos só tua luz, teu sal)

Abortado em seu Império

A esperança resta à prole

Dura ainda o puerpério

E o varão tem corpo mole

(Qual monstrengo, no seu voo abissal)

Já nasceu como um colosso

Solo e ares de grandeza

Madurece, que o alvoroço

Toldaria tua nobreza

(sim, recorda o teu nome batismal)

Que foi feito dos teus anos,

Onde a glória prometida?

Abdica dos teus planos

Tua herança é mais garrida

(Brasil, vai e revela Portugal)

Velas, mastros se remontam

Cruzes, mantos celestinos

No formato nos apontam

Qual o porto e qual o destino

(Brasil, tens de cumprir a Portugal)

— "É em nós que é tudo. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri."—

David Ariru
Enviado por David Ariru em 22/04/2021
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