Conto da nossa história na memória

Gratidão é nascer gaúcho de coração

Falando tchê e dançando vanerão

Com prenda rodopiando pelo salão

Com emoção do violão

Do guri que encanta e canta modas do radinho de mão

Peão levantando poeira do chão

Que nem cavalo alazão

Carregando o patrão piuchado com laço de imbira lembrando sucupira

Bota de couro

E anel de ouro

Levando o casamento como tesouro guardado de muito namoro

Esperançoso do novo

O amor a acontecer a todo momento

Cheio de esperança com choro de criança

Vendo seus filhos crescer em cada alvorecer

Encantado pelos pássaros ao lado

Cantando vozes de seus antepassados

Tão amados como o cusco ali sentado

Abanando o rabo deitado

Sou gaúcha desta terra

Onde o boi berra na encerra

E a mulher tira o leite

para a ambrosia que sua mãe fazia no seu tempo de guria

Adoçando com carinho Cozinhando no seu ninho

Os sonhos de uma família a mesa reunida

Que coisa mais linda

Frutos da terra colhidos de mão em mão

Crescidos do solo pela criação

Feito no fogão a lenha

Com cheiro de fumaça

Achando graça

Um leitão assado

Bem temperado com gomo de laranja ao lado

Depois o melado enfarinhado

Batata doce crocante

Lampendo os dedos com sabor provocante

E ao comer a agradecer

a Deus o florescer

verde com brotos carregados de sabores

Em várias cores

E a água cristalina do riacho ali perto a brotar para nadar regar e cozinhar

Água da vida

Pura de alegria

Onde o peixe dourado brilha iluminando o lago gelado

E o vento minuano sopra nos bosques providencianos

E o gaúcho vestido com poncho a viajar

e a cachaça sua velha companheira para parar a tremedeira

ao lado da fogueira

E um charque para durar o ano inteiro e comer um carreteiro

Com um feijão tropeiro

Deitado na saudade

de voltar logo para sua família de verdade

O qual conta muito ser idoso

Um sábio a ser escutado numa roda de chimarrão com a cuia na mão

Contando contos enquanto a chaleira chia na beira da pia

E todos dividindo o amor e o pão com muita gratidão de ser gaúcho deste chão e o lampião iluminando

Clareando a escuridão

Enquanto o pinhão fica estalando no fogo de chão

Com histórias de mula sem cabeça

negrinho do pastoreio

Enquanto toca o gaiteiro

De olhos arregalados acreditando que tem um fantasma escutando

Todos arrepiando

Com uivos de lobos na noite estrelada e congelada

O qual arrepios são ditos como frio

Pois gaúcho é forte trabalhador

mas nunca medroso de tão teimoso

É cheio de tradição com fé e aperto de mão

Calejadas da enxada

Revirando terra com uma força danada

Tirando o alimento que mata a fome e alivia o sofrimento deste mundo desesperado com a pobreza que mora ao lado

Semeando os grãos da união

Do trigo amarelo como cabelos de anjos amigos

No altar fazenda de casa a olhar o terço a rodar de conta em conta trazendo uma oração e pedindo perdão com chapéu de aba na mão

Elevando o coração ao céus azul como manto de nossa senhora que ali mora

Com um sentimento de fé de ter Deus consigo

Onde o pedido sempre é atendido

Na capela de muitos casamentos

Abençoados com o padre de túnica preta

E a bíblia prateada enquanto o sino toca para todo lado

E o amor reina em cada casa enquanto a noiva chega com flor de laranjeira no cabelo

Como sol de primavera

Tecendo o caminho a cada passo a andar até o altar

E o noivo admirando a olhar a chinoca linda prenda minha a chegar

Para casar e sempre amar e cuidar

Assinando com o fio do bigode o documento

Num tempo sem televisão de muita conversa com honestidade

E de ser homem de verdade

Crendo num futuro seguro regado de amor pelo caminho

E um véu esvoaçante mudando a vida de antes de vestido de chita trança no cabelo

Saindo agora cavalo a pelo

Com véu branco da paz

E seu marido cheio de lágrimas nos olhos cheio de alegria que casou com a guria

Que tanta ama e deixou de ser fantasia

Agora a vida dela na minha

E a felicidade a reinar no nosso lar

De amor um sincero

De laços eternos

Onde no final ser companheiro é o ideal

Para o casal

Cuidando do futuro e ter um lar seguro

Coisa de gaúcho tchê

Que faz o fim acontecer

Seu pai lhe ensinou a ter palavra

Sem mentir

A vida sentir

Com felicidade em qualquer idade

Aceitando um elo como gado marcado