Releitura do Hino Nacional

PARTE I

Havia numa faixa coisas ácidas

a mim muito atraentes, cativantes,

pois o povo a minha volta era tão pútrido

que vi Beleza em sons deselegantes

Sem pudor ou falsidade,

homens lindos me trouxeram primo norte.

Nesse meio era a Verdade

tudo aquilo que há na falta de um suporte

Não sei mais nada,

a vida atada

pare! pare!

Brasil, quando escutei o som tão lívido

que faz sucesso e a mídia engrandece,

até seu hino se tornou insípido

como a monotonia de uma prece.

O funk tem mulher, droga e clareza;

é tudo o que eu conheço desde moço;

entendo pois entende-me a pobreza.

É isso ou nada.

Eis teu perfil,

ó meu Brasil,

a pátria atada.

E tem o crime numa infância hostil,

pátria atada

Brasil.

PARTE II

Não noto um culto a um mundo falocêntrico;

na vida eu nunca vi um pudibundo;

em minha vizinhança não há ética,

pois desde a minha infância o povo é imundo.

Lá na escola mal regida

vi somente quem pintasse as mesmas cores,

porém nunca, nesta vida,

fui atrás de alguma a mais, de mais pintores.

Não sei mais nada,

a vida atada

pare! pare!

No que outros elogiam falta estímulo,

e a mim o que criticam é engraçado.

Se as vejo se exibindo as minhas glândulas

da boca babam, pedem mais do errado.

Eu não tive como o rico tanta sorte;

meu sonho é que meu funk repercuta;

que alguém a minha letra crua exporte.

É isso ou nada.

Eis teu perfil,

ó meu Brasil,

a pátria atada.

E tem o crime numa infância hostil,

pátria atada

Brasil

15, 16/04/2020

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 16/04/2020
Reeditado em 25/04/2020
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