MÃE GENTIL

 

Como era terno
te chamar de mãe!
Mãe gentil,
te erigiam rainha
de leste a oeste,
de norte a sul.
Mares e rios
escorregando por teu colo,
mãe sem preconceitos,
agasalhando teus filhos
e filhos de outras mães,
brancos, pardos,
negros e amarelos.
Minha terra, minha pátria,
mãe gentil,
foste tão rica com teus metais,
ouro, prata e cobre
e teus invejados colares
de diamantes e esmeraldas.
Mulher cobiçada pelos gringos,
e hoje tão pobrinha!
Ainda menina-moça,
te usurparam, violentaram,
te roubaram os metais e colares,
te rasgaram o ventre, te estupraram,
e entre dores e gemidos
pariste filhos ingratos
que hoje te cospem na cara,
te renegam, te saqueiam,
te sacaneiam,
te matam de vergonha,
mesmo assim,
tu  acolhes
esses calhordas.
Sinto muito,
mil perdões,
pela omissão,
sempre morri por ti,
da boca pra fora,
de braços cruzados,
nada fiz,
nada faço,
pátria minha,
acovardado,
envergonhado,
só sei dizer,
hipocritamente,
eu te amo ,

pátria minha,
mãe gentil.

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)

Livro A poesia da calçada não vende ilusão

Scortecci Editora (2020)






 

Benedito Morais de Carvalho (benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (benê) em 02/03/2020
Reeditado em 22/04/2024
Código do texto: T6878916
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