Não me calo meu caro
Lá fora as coisas calam
As rosas já não falam
O desamor anda tomando conta das esquinas
E aquelas meninas que tanto amei
Já não têm o perfume da poesia instigante de um sol poente
Tem um Estado doente
Tenho estado doente
Sou paciente de um mundo caduco
Já não consigo colocar rimas nos entreversos
Dos versos dos meus poemas
Mas ainda sou atrevido, incauto
De voltar a sonhar sonhos que um dia dissonhei chorando na chuva
Depois, só depois, me penduro no varal sob o sol quente
E o vento soprado balança, sacode e me acorda pra vida
Lá fora as dores se calam espremidos nos becos
E os medos exalam no suor frio dos poros dos trabalhadores
Lá vai mais um dia
Panela vazia
Boleto atrasado
Pé no chão
Resfriado
Remédio caro
Meu caro
Mas e eu?
Eu não, eu não me calo