Quinhentos anos a navegar
Ei, não te desculpes pelas falhas que tu cometeste!
Afinal estamos 500 anos a navegar.
E tenho parte na trajetória desse;
Também sou cúmplice nas águas deste mar.
Levantai a proa, içai as velas
Nesta calmaria vamos explorar
Desbraves os mares a pátria e as feras
As nativas em José de Alencar.
Vem fazer de conta que sou patriota,
Vem correr atrás da bola de futebol
Vem brincar de ser idiota,
Enquanto vendo meu pré-sal
Vem extrai meu último canino
E entregar a sorte, derradeira devoção.
Tirar a cota do menino
Cumprir o papel de exploração.
Sou colônia, sou servo, sou escravo,
Portugal é logo ali, meio ao planalto central,
Saqueiam-me, roubam-me, depredam-me
E de mão atadas, libertam-me na euforia de um carnaval
Tem circo o ano inteiro
Não há de se preocupar, há muita diversão
Tem piquete e cavaleiro, humoristas e até trapezista
Sem dizer do lanchinho que oferecem no meio da apresentação
São quinhentos, só quinhentos anos a nos roubar
Sou forte pávido de um colosso
Mas estão me esgotando, explorada sem piedade
Sou palco da covardia de pura insanidade
Dizem me governar, num regime democrático
Quinhentos anos de história não foram suficientes
Neste regime já pregado por Clístenes, o Ateniense
Não fora suficiente a corja de dementes
Não te desculpes pelos mares que não desbravares
Talvez não seja essa aguas a que Deus escolhera
Tão pouco essas terras com pátria Vil
Rodeada de lobos, transformando-a num covil
Onde está Tiradentes e os inconfidentes?
Que a pátria o poder outorgou?
Se não são esses os descendentes
Que a terra amada confiscou?
Brasil, se coubessem no bolso
Nem guerra, nem forca, tão pouco uma pena dourada
Já estaríamos confiscados, desde o início
Num torneio de quebra de braços.
São quinhentos anos a navegar,
Quero mesmo a minha liberdade
Não essa utopia disfarçada
De pátria bem-aventurada.
Quero poder em meu rosto
Não manchado por tintura
Esperar a igualde de liberdade
Prometido, na rendição da ditadura.