A Senzala Não Caiu

Brasil,

A senzala não caiu.

Acarinha teus filhos de pele escura,

De suave brandura,

Que trazem no peito as marcas de um passado hostil.

Brasil,

A senzala não caiu.

Negas entendimento aos que no passado imputaste terríveis sofrimentos.

Vivem eles como mendigos suplicando migalhas e entoam um triste lamento,

São vítimas de um progressivo envenenamento.

Brasil,

A senzala não caiu.

Quem lota as prisões?

Quem está ao bel-prazer dos fanfarrões?

Quem integra as ignorantes multidões?

Brasil,

A senzala não caiu.

As grades mudaram, são agora sutis.

Brasil, cuida dos carentes juvenis.

Derruba as barreiras invisíveis que ainda separam as crianças negras daquelas que se enfeitam de verniz.

Daquelas que desde o berço aprendem que são as únicas detentoras do direito de ser feliz.

Brasil,

A senzala não caiu.

Não separes teus filhos por caminhos atrozes.

Cala os ferozes.

Não distingas a aplicação da lei entre ricos e pobres.

Valoriza os que possuem corações nobres.

Brasil,

A senzala não caiu.

Está de pé, alimenta interesses.

Tem muitos fregueses.

Brasil,

A senzala não caiu.

Sopra para longe as cinzas do passado triste,

Não desiste, insiste!

Luta pelo futuro, pela instrução!

Entende que somente o discernimento elevará nossa nação.

Sonha, Brasil!

A senzala ainda não caiu,

Mas tu ainda possuis a beleza do céu azul anil,

E a garra para hastear a bandeira da educação!