As Nuances de um Resgate
Nasci em tempos de justo saudosismo,
pois dizem que o país já foi vibrante.
Eu ouço de um passado celebrante,
de orgulho, de vitória, de lirismo,
Mas quando noto em volta, que vexante...
A gente da ufania contestante
morrendo, sucumbida a um fatalismo.
Também cobiço ouvir vociferante
de um povo heroico o brado retumbante
às margens do triunfo e não do abismo.
Meu hino nacional nobilitante,
poetas e artistas da beleza,
há tanto tempo atrás com agudeza,
minguaram ao disforme, ao agravante.
E líderes fiéis da alta nobreza
sumiram, esquecendo a fortaleza
deserta, sem igreja ou governante.
Contristo a nossa honra, com tristeza
gigante pela própria natureza,
ao sol do velho mundo inebriante...
Mas eu, nesta mocidade,
por princípios clamarei da melhor sorte;
se o penhor dessa igualdade
conseguimos conquistar com braço forte,
sei que eu posso, com vontade,
fazer jus a cada sonho me exorte.
Em teu seio, ó Liberdade,
desafia o nosso peito a própria morte,
e a morte, ó Integridade,
hoje implora pela pátria como norte.
Também cobiço o brilho da grandeza
nos olhos, no lugar do calabouço.
Perder pela bandeira o meu pescoço,
gravar no livro histórico a proeza.
Mostrar que meu país não é insosso,
que temos neste sangue a clava e o gosto
por fausta e minaz luta, e por braveza!
Brasil! Nosso Brasil do nosso esforço,
és belo, és forte, impávido colosso
e nós te livraremos da torpeza!
Subamos, meus irmãos, a nosso posto
por glória rediviva do passado,
por paz para o futuro almejado,
por nós que temos honra em nosso rosto!
A brasa verde-loura, em Corcovado
o Cristo eternamente a nós atado,
nós somos muito mais que esse desgosto
que fere o ancestral, desrespeitado.
O lábaro que ostentas estrelado,
Brasil, o nosso amor terá disposto!
Tua fibra corrompida
se erguerá; reviveremos teus valores.
Do que a terra mais garrida
teus risonhos, lindos campos têm mais flores
que floreiam a conquista
de estrondosos sem parar nossos tambores!
Nossos bosques têm mais vida,
nossa vida no teu seio mais amores,
e os amores – por Justiça! –
pegam armas no teu meio, lutadores!
Brasão que carregamos arrojado
na brasa flamejante resoluta,
por ti não há montanha e não há gruta
firmadas sob o fogo nosso irado!
Brasil brasil, da cálida conduta,
que a chama nas pessoas repercuta,
que lembrem o que fomos no passado!
Louvado, se na forca que executa,
verás que um filho teu não foge à luta
nem teme a nossa flora o chão salgado!
Coragem, dos teus galhos é a fruta,
o hino, dos teus pássaros é o pio,
o afeto em nosso peito juvenil
fará a maior dolência diminuta.
Brasil brasil, é teu fulgor febril
da infinda condição primaveril
que ao sonho intenso e rúbeo nos deputa.
Porque somos exército servil,
dos filhos deste solo és mãe gentil
e, como as mães gentis, não tens comuta!
A pátria amada,
Idolatrada,
Salvem! Salvem!
Poema selecionado para ser um dos 250 a fazer parte do livro Poesia Livre, pela editora Vivara, em março de 2018. Por falta de pagamento, contudo, devido às dificuldades financeiras, provavelmente não será incluído à obra.