À CASA DE VIDRO E CRISTAL (para Regina, Miriam e Carlos)
“Não dese¬ja¬mos virar para trás nos¬sas cabe¬ças, que¬brar nos¬sas vér¬te¬bras cer¬vi¬cais para olhar a poe¬sia com a naf¬ta¬lina dos perversos!” (Burliuk)
Brilhantes coquetéis incendiários
Molotov humano
Um sistema desenvolvido
Com ideários irrefreáveis
Revoltados
Agressivos
Inflamados
Excessivo de messiânicos
A língua do ímpeto
Anatomia enlouquecida
O ano travado
Já começa nos fins
Como fazer versos romantizados
Se a anatomia do mergulho
É o marulho sangue
Se os loucos fossem versos imortais
Os abraçaria com fervor
Nada diria
Só louvá-los-ia,
Cantá-los-ia com prazer o romantismo
Se o realismo não fosse esse sangrento do momento
Corte-versos
Extremado
Testemunho ocular
Como não ver?
Faria à mouca
À louca
Seria só mais um hipotálamo de merda nesse chiqueiro
Um grão de feijão acima da hipófise
Como regular os estados de consciência?
Ser parcimônia
Travar-se no ímpeto-dizer?
A consciência é peso
Nesse olimpo elitista de czares poéticos do umbigo
Das fardas de mijo
Das canetas travadas-metralhadoras
Dos coturnos de merda
Medievais talhados no século passado
Prisões do pensamento!
À merda a biografia!
À merda com biografias
Querem versos imortais doces?
Sangrem a utopia dos versos animais
Um exército de penas moucas destronou a poesia
Enquanto o sangue escorre
A alvorada é sombria e voraz
Burocrata totalitária
A herança da ideologia é aos mortos
Segurem-se os inimigos
Meus heróis não morreram
Porque ideias e ideais não morrem jamais
A arte é engajada
Nos hábitos operários
No poema revoltado
Na controversa-personalidade
À merda com os formulários
Os desengajados hábitos-pequeno-burguês
O freguês é o gosto
Onde o barco do amor-humano
Espatifou-se no cotidiano
A vanguarda é futurista
À esquerda é massa lírica
A turbulência é social
O poeta deixa a torre de marfim
Desce a ladeira tupiniquim
Faz-se marginal na ladeira das letras
Seu extremo de riquezas
Sem fraquezas
Encontra força nas ideias
De corpo e alma
Nenhuma ideia a menos
Ou a poesia é bala inútil das letras
Do papel o capitalismo
O nariz cheira dinamite
Dinamiza e leia com a testa
A força da negação
É uma sociedade burguesa
De poetas incendiários da arte
Venha e lute
Aquele que tiver mãos nas ideias
Saqueiem as penas
A poesia é um perigo
A quem cheira naftalina nos versos
Flutuamos num exército de múmias vivas
Que buscam um lugar à corte
Senhores cânones da arte
Minha letra é vid(v)a revolução
Utopia não foi, nem é ou será arte precoce
Não está à morte
O que está exposto está exposto
Pois que venham as críticas ácidas
Ácida é a palavra,
é o punho
é o pulso
é o peito aberto
é o coração na mão
A biografia real está manchada de sangue
O sangue do pescoço à forca na força
O poeta conclui-se dentro da alma
Apoesie-se à esquerda
É um direito
É revolucionário o dizer
Ocupe um lado, abrange-o todavia
A obra permanece
E ponto final
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(Buscando flores nos remendos vigentes do reino das tragédias e perda do ideal, IN inspiração: Maiakóvski)
Nota necessária:
Transfiro a força da negação do momento realista à sociedade pequeno-burguesa. Aceito quem não tem nada a dizer. Cálice! Mais um cálice! É preciso um gole, outro gole, mais um gole, a garrafa inteira. É preciso pleno de ebriedade diante do CALE-SE do realismo momento. Desculpem-me o incômodo de dizer, mas eu venho de uma geração que esbanjou seus poetas. E eles não estão mortos, posto que ideários das ideias não morrem jamais. A angústia diante dos limites fixos e estreitos e o desejo de superação dos quadros estáticos constituem um tema que varria sem cessar o marasmo das letras de quem eu li e leio e leio e leio... Nenhum curral no mundo poderia conter o poeta no desejo de dizer o que ser quer dizer. Era desenfreado, e continua sendo, sendo poeta, todo poeta é um revolucionário no dizer.
AVISO AOS INCAUTOS: Ninguém é obrigado a concordar com a minha revolução silenciosa de palavras no dizer, mas cumpre comunicar que eu fico e continuo na marcha da primeira fileira dos rebeldes das ideias. É um momento que faz-se necessário esse partir-se em mil pedaços, essa é a fábula da arte apocalíptica do dizer. Entregar-me-ei de corpo e alma, nenhuma ideia pela metade, nenhuma trégua, como nunca foi. O momento da poesia deveria ser só o belo, mas não é, é doloroso e pode ser útil dizer então digo e direi. O Poeta incita a rebelião das letras. Corre-se o risco de entrar um corte profundo nas palavras ou corre-se o risco de entrar num camburão sem voltas centrando fogo nas ideias e daí? Peguem a pedra dos poemas e insiram à insurreição das formigas das línguas paralíticas sob a pena de degradar a própria arte em cima de suas bundas mofas. A vanguarda literária está em revolução. ACORDEM SUAS VELHARIAS, se é que podem ainda ver ALÉM DO RABO. OCUPEMOS OS SALÕES DOS CÉREBROS! - Convoquem um renque de canetas armadas. Para além do carnaval de livros fúteis, apressa teu passo. OCUPE UM LUGAR À MESA. A LETRA É NOSSA!
O AMANHÃ NÃO TE ESQUECERÁS. BASTA QUE DESÇA DO PEDESTAL DAS HIPOCRISIAS, SACOS, RABOS, MEDOS E INCENDEIE AS FOLHAS SECAS DOS TEUS VERSOS MORTOS.
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Sigo na companhia de vulcões: A banalidade do mal é o medo e a sua tenebrosa atualidade. Descobriremos que não são tão gigantes quanto queriam parecer ser, parecem imensos porque estamos de joelhos. ___Comigo Hannah Arendt (Sim) Hannah e por mais que gritem incrédulos os incautos, Hannah também por que não? (Polarizar aqui não), é válido todo válido pensar; Stanley Milgram; Dostoievski; Tolstoi e Maiakóvski e o próprio Maia dizia: “Eu vos amo, mas vivos, não como múmias.”
Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
(Maiakóvski)
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Um beijo da Serpente