A REVOLTA DO BUFFET

I

e agora coxinha?

acabou o novelo e a novela

o fim da linha é só baldeação

o óleo quente quase purifica

enquanto o poema não se explica

traídos traidores e traições

herdeiros dos anões da previdência

o colírio de pimenta lubrifica

enquanto o verso não se explica

e agora kibe?

sem dois terços dá até para emendar o novelo

o fio vem da mesma toga do nicolau

a memória é curta e não se aplica

enquanto a assimetria silábica não se explica

da mensalidade o neologismo mensalão

o olho roxo a careca lustrada é o que resta

não presta o exemplo e nem a dica

enquanto a rima não se explica

II

e agora empada?

morreu?!? o eleito civil morreu!

o coronel congelou tudo fez fiscais se reelegeu

diretas: o biônico no combate aos marajás!

veio o confisco o carro importado e o que mais?

claro! o vírus do pc pintou caras coloridas

kibe coxinha empada de mãos unidas

o mineirim escolheu o sociólogo para conter a inflação

depois uma era com muita privatização

então o operário da máquina sindical

se uniu à direita feudal

numa era de avanços pálidos no campo social

num tempo onde nada existia qualquer coisa seria fenomenal

finalmente uma mulher poderosa! puro engano!

deixou vazar muito óleo do cano

escolheu o imediato numa ingênua aposta

montou na bicicleta pedalou e foi deposta

agora tememos como gado na senda

o banqueiro alaranjado na fazenda

III

e agora salgadinhos?

é tanto que nem cabe nos versos

SUDAM Marka Econômico Noroeste Banestado

Encol Mesbla tudo investigado!

novo novelo nova Navalha

Luis Estevão Celso Daniel Waldomiro Diniz

Correios IRB Fundos de Pensão

Sanguessuga Confraria Dominó Saúva

Renangate?!? Daniel Dantas?!?

é tanta coisa que nada adianta

é tanta coisa que chega a ser chato

a fome não acaba nunca

pois a comida vai toda para o mesmo prato

quem está aí é quem sempre esteve lá

só que agora não há mais isenção

o sufrágio perpetua e autoriza que a elite sirva a mesma ração

há séculos a fome sempre foi a solução

o povo é magro satisfeito servil complascente

sequer percebe a diferença que o torna indiferente

sem dinheiro mais trabalha menos pensa

trabalha?! tem trabalho?!

gargalhada ato falho

deveria porque vai ter que contribuir mais

para quem tanto fez tanto faz

horda de gente importante

menos se esclarece mais se fica ignorante

corja de gente chique

mais do mesmo antes que o último se explique

zumbis da mídia aberta ao monopólio

postam a foto da ausência de espólio

expulsa a falta de vergonha

embrulha o travesseiro na fronha

e sonha

IV

comecemos de trás para frente

percebam que só há uma bandeja

a rima é pobre como o bolso do povo

a rima é pobre como o espírito da elie

a rima passa fome e anda sobre o ovo

a rima cumpre o conselho achando que é seu próprio palpite

a sílaba não faz diferença

no ventre desse eterno entender

o diagnóstico não cura a doença

endêmico ciclo silábico do ser

o verso é extenso e pouco profundo

tão tenso quanto morimbundo

e as estrófes são desnecessárias

o tempo é mais lento em algumas faixas etárias

percebam que a bandeja não é ninho

é triste escrutinar em prol do nada

não há orgulho em qualquer espécie de salgadinho

o entulho entala na garganta empanada

somemos ao custo de todo estrago

a estrutura que se mobiliza para o desvelo

mais um calote social que nunca será pago

outra novela de um novo novelo

o poema tem fome tem miséria e reinvidica

algum sentido para aquilo que não explica

V

ganância!