NAVIO NEGREIRO XIX

Meia-noite a flama arde

Embarque covarde

Num cais cargueiro

Da África explorada.

Abarrotam-se os porões

De um navio negreiro

Abolicionista de sonhos

(da Terra raiz)

Levando almas aprisionadas

Para ricos fazendeiros

Do distante além-mar.

Depois de carregado

De mão de obra capturada

Veio o navio traficante

Sacolejando pelas águas

Sem mínima estrutura.

Grilhões e correntes soando

O tom da ingrata escravatura.

E os homens feitos escravos

Chorando em sintonia

Sem concordar

Com a imposta partitura.

É anunciada a chegada

(na grande prisão Brasil)

Aos que não sucumbiram a viagem

As porteiras das fazendas se abrem

Recebendo o despejo do navio negreiro.

Vibram os senhores compradores

Lamentam no lombo os chegados escravos

E choram suas flores os compadecidos cafeeiros.