ESCRAVATURA XVIII

A luz defunta

Da escravatura brilhou

No céu abiótico da Colônia.

Só a noite detinha asas de liberdade!

Arrobas de açúcar puro

Moeram os ossos nos gomos da cana.

Gemeu o engenho mastigando vidas.

Manufatura do caldo de almas subjugadas.

Picaretas amaciaram o concreto mineiro

Na fundição pepitas se tornaram joias de esmero

Aos escravos restou uma pobre coleção de calos.

Ouro de negro não vinha das minas. Vinha da união.

Os cafeeiros cobertos de flor

Desfizeram-se de suas pétalas brancas

Abortando o fruto através suor áfrico, e pavor.

As flores caíram para sepultar açoitados segredos.

A chibata impiedosa estalava

No lombo forjado de cicatrizes dos negros,

Escravos que só tinham grilhões, e uma apertada senzala.

Apenas o sonho e o próprio sangue os alimentavam.