EUFORIA GERAL

Para amanhã, espera-se o novo.

Espera-se um dia melhor que o anterior.

No próximo, e para ele mesmo.

Também para o nem tão próximo.

Espera-se um Brasil melhor, diferente,

após o domingo de eleições.

Espera-se o que poderá vir logo, logo.

Espera-se no povo, nos salários

porvindos. Espera-se a porta aberta

sem tramelas, maçanetas.

Chora-se por nada, bocas famintas,

exasperadas,

espelhadas para o dia seguinte.

Enquanto esperamos, a alma faz

o seu desvelo, enrola o novelo das esperas.

Como antes, feito abelhas tontas,

produzimos o mel de todos os dias.

Tomara muitos saibam de seu gosto.

Que espera não seja desgosto.

Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 33.