SER OU NÃO SER ESBULHO

“O toque a finados”

Já se foram as alianças

Ficaram dedos e engulho

Não há cortes nas finanças

Mas apenas o esbulho.

Esta Tróica vai-se embora

Com lucros arrecadados

Depois dela, a toda a hora,

Tocam os sinos a finados.

Vão-se os caixeiros-viajantes

E o país fica precário,

Mas os nossos governantes

Acham o povo extraordinário…

Coitado do “zé-povinho”

Lá se foi o pé-de-meia

Resta-lhe a côdea e o vinho

E ela sai de barriga cheia.

Estão-se rindo os maiorais

Deste bom povo em esbulho

Pelos vistos querem mais

Para encherem o bandulho.

Esbulham esquadras de bairro,

Dizendo que há desperdício,

A guarda sob um chaparro

Está melhor que num hospício.

Esbulham repartições

E mais centros de saúde

Para o povo as emoções

É o que fica de virtude.

Esbulham creches e escolas,

Que se lixe a educação,

Não há letras mas há esmolas

Para os filhos da nação.

Esbulham os hospitais

E o transporte de doentes

Dá-se o milho aos pardais

Só depois aos indigentes.

Esbulham trabalhadores,

Já é um luxo trabalhar,

Os banqueiros são uns amores

Quem quiser pode emigrar.

Esbulham comunicações,

Para tanto há a internet,

Se não mexem em botões

Que se amanhem com o frete.

Esbulham lojas do cidadão

E reforçam ministérios

Serviço público é ficção

E justiça nos cemitérios.

Esbulham os frutos da terra

Com destino no estrangeiro

Se houver míngua não dá guerra

Pois o povo é muito ordeiro.

Esbulham honra e direitos

E a própria Constituição

Não são cortes nem defeitos

Mas são flores pra Nação.

Mais esbulho menos esbulho

Nem aquece nem arrefece

Para o país fica o entulho

De mãos alçadas em prece…

Tocam os sinos a finados

Ricos, pobres, de toda a idade,

Para a história ficam os dados

E da Tróica nem a saudade.

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 02/05/2014
Reeditado em 02/05/2014
Código do texto: T4791708
Classificação de conteúdo: seguro