Um viajante ateu

Ao abrir os olhos me deparo com a imensidão,

Do verde-bandeira, do azul da terra brasileira

Faziam-me sentir em casa

Por entre a flora diversa, me perdi entre os cipós moribundos

Das lamas fui empurrado,

Atravessava agora um vasto sem brilho

Estranho passar pelo enlameado,

Ver-me como verme desgraçado,

Que do marrom nascera e morrerá

Passando minha fase de penúria,

Falo agora de injúria

Enxergo de longe, faço mera conjectura

Imagino uma miragem clichê,

Um tucano, uma tulipa, quem sabe você

Deparo-me com o mar aberto,

Seus braços a umedecer as rochas

Suas ondas a quebrar montes de areia,

Vejo os olhos do mar,

Seus cantos, encantos, sereia

Seus olhos me tragam como Capitu,

Perto de você, sou aberto, animalesco, fico nu

É com o corpo desnudo,

Com meu eu mais sincero,

Com esmero te peço,

Me aceita, te venero

Penso em me juntar a Iemanjá, oxalá!

Mas porque consagrar a chama acesa

Porque juntar escovas, cabelos e mesas

Se o que existe é estável

Deixar morrer pela monotonia,

O enlace, a monarquia,

De dois reis em sintonia

Não vou mais correr perigo,

É muito fácil juntar o desmilinguido,

É humano demais acorrentar

Essa é a escravidão da modernidade,

Consumar o que antes tarde, é sempre um nunca a decifrar

Amar você é simplesmente querer

Do oceano gota a gota

Da flora cada semente

Da fauna cada filhote

Do mar, o mais ardente

De teu corpo basta a boca, falo veemente

Essa ponte entre humanos e orixás,

Une o metafísico aos animais

Une eu a você, em laços carnais

Deus me livre rogar essa praga,

Aventureiro que sou, me larga!

Deixe-me viver a vagar

Por entre florestas procurar

A calmaria em meio as corredeiras,

De um rio qualquer que deságue em meu mar

Gabriel Amorim 13/08/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 15/10/2013
Código do texto: T4526547
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.