Lembranças de um velho seringueiro

No meu seringal mirim
Malária, febre amarela eu resisti
Assim quando eu achei que era o fim
De esperança e coragem me revesti
 
Enfrentei onça, serpente e escorpião
Fome, praga, tempestade e gente ruim
Digo isso sem amargura no coração
Porque foi exatamente assim
 
Nesse torrão onde o vento balançava
As seringueiras lentamente escorriam
No ritmo da brisa cada copa dançava
Se moviam, se encurvavam, me envolviam
 
As sombras formoseavam os meus sonhos
E neles escritos com sangue os meus ideais
Aqui trilharam Marias, Josés e Antônios
Gente que há muito tempo não trilha mais
 
Ficaram sem chão, sem rumo e sem paz
Sem rede, sem prumo e sem esperança
Na mente apenas uma vaga lembrança
Dos velhos tempos dos bons seringais
 
O ouro branco foi apenas uma ilusão
Que achou morada num coração aventureiro
Hoje são páginas da história de uma nação
Ainda na lembrança de um velho seringueiro