CONFRONTO
E Cabral, com aflição:
- Mas, que é daquela terra
Que ao acaso descobri,
Colorida de florestas
E animais em profusão?!
E as árvores tão cor de fogo,
Que abundavam nas matas,
Que coloriam os índios
E deram nome à terra?!
E os rios tão fecundos,
Que reluziam de peixes,
Largos, puros, transparentes,
Que matavam nossa sede?!
E que é do índio, afinal,
Tão forte e tão valente,
Que se embrenhava na selva
Pra alimentar sua gente?!
Tudo acabado! Que horror!!
Que cruel desolação!
O que vejo são clareiras
Intermináveis nas matas,
E os rolos de fumaça
Que se elevam pelo céu,
Acinzentando o espaço
E roubando-nos o ar!...
E esse grito infernal
De máquinas em derrubada,
Fazendo tombar por terra
Milênios de construção?!
E essas águas tão compactas,
De mercúrio poluídas,
Que roubam a vida aos peixes
E semeiam degradação?!
E pensar que tudo isso
Foi causado pelo homem
Que aqui deixei, confiante
De que tudo ia cuidar!
Tudo acabado! Que horror!!
Socorram-me, por favor!
Quero voltar pro meu tempo!
Falta-me o ar à garganta,
Seca-me a boca de sede,
E aos meus olhos foge a luz...
Socorram-me, por favor!
Não fico mais um minuto!
Tenho vergonha do homem,
Animal destruidor,
Que não tem pena nenhuma
Nem da própria descendência!
Quero voltar pro meu tempo
E viver só de lembranças
Do verde tão derramado
Nesta terra em que pisei;
Do azul que aureolava
A tela tão colorida;
Da translúcida brancura
Nas cascatas borbulhantes
Onde banhavam as índias
E pululava a vida!
Volto ao meu tempo abatido,
Com meu sonho destruído
De ver tudo renovado!
O próprio homem, coitado!
Não medindo sua ação,
Cava a própria extinção!...
Adeus, terra tão querida,
Não posso ficar aqui!...