O VISIONÁRIO

(Inspirado no romance, O TRISTE FIM DE POLCARPO QUARESMA).

Insatisfeito com o nosso idioma importado,
Tentei de alguma forma muda-lo,
Fiz e enviei projeto,
Por que não expressar uma linguagem,
Cujas raízes estejam fundamentadas aqui;
Por que não o Tupi Guarani?

Apuparam-me,
Zombaram do meu intento,
Riram com sagacidade,
Refutaram-me veementemente,
Imputaram-me como insano,
Enviaram-me para um hospício;
... Sobrevivi.

O país é imenso, de terra fértil,
O desenvolvimento, o crescimento,
De um povo, de uma cultura,
Dá-se com a junção de todas as classes sociais;
A solução é simples,
Investimento na agricultura;
Novos projetos...
Dessa vez fui ousado,
Entreguei-os diretamente ao presidente.

O desprezo foi completo,
A resposta taxativa;
Não passas de um pobre demente,
De um eterno visionário.
Ainda assim, insisti...

Veio então, a guerra;
O patriotismo foi inevitável,
E lá estava eu, pronto para o combate,
E lá estava eu, um voluntário, um lutador, um visionário;
Era o amor às raízes.
Quarenta homens sobre o meu comando;
- Em frente...?
Era a ordem a ser cumprida,
Quarenta homens avançando...
Talvez para a morte.

Rojões cortam o ar,
Canhões desfilam soberanos,
Homens e fuzis se abraçam,
Desespero, tiroteio...
Gritos de agonia!
Um forte impacto em meu corpo;
-fui ferido!
A dor da alma era muito mais forte;
Resisti...

Depois do pesadelo,
Quando tudo parecia tranqüilo,
Veio a revolta a indignação,
Alguns homens do “homem”,
Invadiram o alojamento,
Bravos soldados feridos,
Foram levados cativos,
Foram covardemente executados,
Sem motivos, sem escrúpulos e sem razão,

Perante tamanha atrocidade,
Não me calei;
Em carta protestei,
Prenderam-me,
Espancaram-me,
Lançaram-me na prisão,
Sem direito a direito algum;
-Traidor, traidor!
Mereces esta lição,
Mereces esse triste e melancólico fim;
“Meteu o bico onde não foi chamado”,
E achou que ficaria assim.

A alma já estava morta;
O corpo era questão de tempo.
... Adeus Tupi Guarani.