SEM RIMA 256.- ... rapa das bestas ...
Manuel Margarido noticia muito brevemente em "As folhas ardem" (http://asfolhasardem.wordpress.com/2009/06/21/a-rapa-das-bestas-galiza/#comment-533) "A Rapa* das Bestas" festa tradicional em determinadas zonas da Galiza (Spain):
"Em Junho [na realidade no fim de junho e princípio de julho], a tradição cumpre-se: os homens enxotam os cavalos selvagens das montanhas, cercam-nos na planície, dominam-nos, cortam-lhe um pouco de crina, marcam-nos com um ferro que os identifica como animais selvagens de montanha. Por um momento, homens e animais reúnem-se num encontro íntimo, violento, catártico. Pode não se achar graça nenhuma a isto, claro. Mas este ritual, tão antigo como a Galiza, já era descrito por Estrabão há cerca de 2.000 anos. Para assim se ter mantido, ao longo de milénios, alguma importância muito primordial o percorre."
Hoje, recantistas, o reino da Espanha
pretende "modernizar" essa tradição:
já os cavalos não poderão ser selvagens,
mas civilizados por ordem altíssima,
radicalmente desordenada, como costuma
ser, quando as autoridades "competentes"
decidem patentear a sua "competência"...
Suspeito que o poder espanhol na Galiza
suspeitasse que, antes ou depois, os cidadãos
e cidadãs (ah, o "sprint" conscientizador
das mulheres!!!), percebessem o profundo
sentido da "rapa das bestas":
"E, se nossos
servidores e súbditos imprescindíveis chegam
a sentir que nós, autoridades competentes,
somos as bestas que devemos ser rapadas**?
"Atenção! Houve rapas históricas cruéis
na Inglaterra, na França, na Rússia...
Nem sempre foi o povo ou o povo só; mas ninguém
pôde liscar***, se a rapa vinha determinada.
"Hoje, época de grandes sacrifícios populares,
convém que lhes doemos esquisitas causas
que os entretenham e afastem dos problemas
graves e urgentes. E, de passagem, continuaremos
eficazes a demolição de tudo o galego e, com ela,
o perigo de as pessoas galegas tomarem
consciência de serem lusófonos, e o risco maior
de exercerem como lusófonos neste reino
de hispanofonia tão artificiosa, quanto
uniformante e excludente."
Assim explicariam
as autoridades 'competentes' espanholas,
se tivessem a capacidade de dizer
o que projetam e praticam
inflexíveis e implacáveis
'em vício da sem-razão
de estado'."
Consequências extremas da Modernidade...
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(*) "rapa" s. m. (1) Jogo de rapazes que se pratica com uma espécie de pião com quatro faces onde estão escritas as iniciais das palavras: 'rapa', 'tira', 'deixa', 'põe', indicativas do que há de fazer o jogador conforme com a letra que fica voltada para cima. (2) Pequena pá com que se raspa a massa que fica pegada à masseira. (3) Utensílio de ferro com cabo de madeira usado para desprender os percebes e os mexilhões das penedas. (4) Pau cilíndrico para rasar as medidas. Rebola. (5) Espécie de borboleta cujas larvas vam em fileira umas tras das outras. (6) Tosquia da lã, o cabelo, o pelo: "a rapa das bestas".
(**) "rapar" v. tr. (1) Cortar o pelo ou a lã rente: "rapar as ovelhas". (2) Furtar com engano: "rapou-lhe o dinheiro que tinha". (3) Arrincar os percebes com a rapa. (4) Desgastar ou tirar raspando. (5) Roçar, pelar: "raspar a poula". (6) Barbear à navalha. (7) Levar uma vida cómoda: "rapa uma vida...!" (8) Passar a rapa ou rebola a uma medida de grãos.
v. pron. Barbear-se, cortar-se o cabelo.
(***) "liscar" v. i. (1) Marchar, ir-se. (2) Fugir: "liscou quando viu a polícia".
v. tr. Criar bichos a carne.