Eu não sou um sujeito simples
Cheguei junto com os portugueses
Naquelas grandes caravelas
Mas era bem diferente
Quando cheguei nesta terra
Nessa terra havia outra como eu
Mas não era parecida com nenhuma que eu já vi
Na Europa não havia
Nenhuma tupi-guarani
Na grande terra que é o Brasil
O tempo foi passando
Chegando também línguas diferentes
Pelo espanhol, pelo francês, pelo italiano
E acaba que hoje a gente diz
Com a maior naturalidade
Que vai comer em “fast food”
Num “shopping” no centro da cidade
Fui ficando mais original
Cada vez mais distante
Da língua da minha terra natal
Para o escritor e para o falante
Ainda sou utilizada em outros países
Mas nem assim eu sou igual
Falam-me e escrevem em Portugal
Também na Angola e na Guiné-bissau
O Brasil se destaca por sua cultura
A diversidade no país é enorme
Por isso nem entre os estados
Eu nunca fui uniforme
As interjeições, por exemplo
São utilizadas de formas diferentes
No Rio de Janeiro se diz “Oh, meu Deus”
Na Bahia se diz “Oh, Xente”
Apesar disso, alguns sujeitos ainda me vêem só como objeto
É reforma ortográfica aqui e acolá
Farmácia hoje é com F
Mas já foi com PH
Atualmente eu passei por uma nova reforma na escrita
Mudando principalmente a minha acentuação
Retiraram o acento de “idéia” e do “azaléia”
Mas fico feliz por não tirarem o til do “não”
A historia que eu conto é a minha
Mas talvez você não saiba quem está contando
Vou te mostrar meus predicados
Para você ir adivinhando
Eu tenho muitos filhos
Que são as funções sintáticas e as classes gramaticais
Entre elas estão os adjuntos, os vocativos
Os adjetivos e os numerais
As pessoas me usam de várias formas
E não há uma certa ou errada
O importante é você se adequar
Está numa festa ou na sala de aula?
Eu tenho dois substantivos próprios
Espero que você não os esqueça
Meu nome é Língua,
Meu sobrenome é Portuguesa