MEU VELHO TORRÃO

Ainda florescendo a vida

Deixei teu solo,

Inundada em sonhos...

Sôfrega!

Por mundos desbravar

Segui por outros caminhos

E distante de ti fiquei,

Terra querida!

E nem sequer vi o tempo passar...

Mas quão os dias distantes

Se faz a saudade em meu coração,

Constante...

E eu contigo a sonhar,

Logo ao teu seio retorno,

Indo as boas épocas de criança rebuscar.

Belos tempos de meninice,

Onde à rua saía,

Bem ao cair da tardinha,

Toda pomposa a passear...

E nas noites claras de luar,

Brincar!

Nas brincadeiras de roda,

Éramos tantas as meninas,

Lá no Bairro da Liberdade,

A correr... a saltar...a sonhar.

Às vezes me flui a lembrança

De certa passagem da infância

Quando o coração palpitava

Guiado pela imaginação

E na mente eis que surgia

A imagem do bicho-papão...

Era o mascarado

Pelas ruas a saltitar,

De noite...de dia...

Mas era só um instante espavorida!

E quando o susto passava,

Destemida! ia pra porta da rua

Ver a alegria geral

Dos belos foliões coloridos...

Os Fofões!

Na época do carnaval.

Como esquecer das belas toadas

Da rica tradição popular

Que versavam a história de um boi

Trsitemente a definhar,

Esperando a desdita sorte

De morrer...

E os anseios de Catirina realizar,

Pois em seu estado interessante,

Comer língua de boi era o bastante,

Para o seu desejo satisfazer...

Era o Boi do Laurentino no Bairro da Madre Deus

Em sua apresentação,

Onde os homens cantavam

Contentes a matracar,

Nos grandes festejos juninos,

Nas noites de São João.

Revivo aquelas andanças

Com Mamãe Rosa, de mãos dadas,

E eu jovial menina - ia!

Sorrindo pelas calçadas

Da famosa Rua Grande,

Onde as pessoas passeavam

De lá pra cá...

Daqui prá lá, em amistosos cortejos,

Ante os diversos assuntos,

Pois a toda hora se ouvia:

Boa tarde!...Bom dia!

Ainda relembro em meus sonhos

À noite, ao me deitar,

Quando na rede embalada

Por Papai Mundiquinho,

Ouvia harmoniosas batucadas...

Era o som do Tambor de Crioula

Ali pertinho!

No Bairro da Fé em Deus...

E eu o escutava

até o sono em mim suceder

E logo dormia, assim!...

Tenra como um querubim.

Gostoso era visitar

A Praça D. Pedro II,

A Matriz do Carmo,

A Catedral!

A fonte do Ribeirão - Sem igual!

E quando a oportunidade surgia,

Escapulia!

Somente para tocar,

Ver os meus dedos redesenhar

Aquelas tão lindas figuras,

Emolduradas pinturas,

Que ostentam os casarões,

Nas paredes de azulejos

Dos teus velhos quarteirões.

Erguida bem no horizonte,

Debruçada ao Rio Anil,

À sombra de grandes palmeiras,

Cheia de encantos mil,

Tão bela praça

Em minhas lembranças revejo...

Cantinho dos casais...agarradinhos!...

E eu enamorada, me vejo

A admirar seus enlevos,

Nas cálidas tardes,

Nesse Largo dos Amores,

Cujo nome fulgente enuncia

Uma homenagem singela

A um dos mais ilustres escritores:

O nosso Gonçalves Dias!.

Ainda recordo com louvor

O motivo da condecoração,

Pois com muita satisfação,

O estudei na escola Estado do Pará...

Foi o nível cultural da tua população

Que te consagrou no passado - Atenas Brasileira!

Orgulho da nossa nação.

Em suma,

Sonho rever tuas infinitas praias

De tão finas areias,

Onde, ao por do sol - cor de mármore!

Que rumam com o vento

A bailar

Em solenes movimentos,

Para formar as tuas primorosas dunas.

Distante de ti,

Versar tuas belezas

É para mim mais que uma necessidade,

Procuro rebuçar essa insistente saudade

A brotar amiúde em meu coração.

E assim, sonhando...

Um dia!

Espero retornar ao meu velho torrão.

E outra vez,

Estarei a contemplar tão admirada ilha...

Encantada!

SÃO LUÍS DO MARANHÃO.

Lucia M Leite
Enviado por Lucia M Leite em 09/01/2012
Reeditado em 09/01/2012
Código do texto: T3431745
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