MULTICULTURANÇA
O mineiro fala uai e o paulista ué
Arre – égua, oxente bichinho, se diz no norte e nordeste
O gaúcho fala tchê e o cuiabano tchá
No sul o índio galdério, no norte o cabra da peste
E eu nessas multiculturanças
Já cansei de conjugar
Em todos os tempos e modos
Conjuguei verbo ponhar
Quando mamãe disse uai..
Diga meu fi u qui é
Qui acontece c’ocê
Eu disse mamãe ué...
Acontece que eu ainda
Só sei cume di cuié
É porque du meu tachim
Derramô sarapaté
Da banana quero um cacho
Dessa couve quero um móio
Minino óia direito
Mais óia de longe u óio
Pru que se esse trem espirra
Pode queimá u seu zóio
A negoça negoçada
Negoçô em Cuiabá
Um já gritô tcha por Deus
Outro já grito he-há
Valei-nos São Benedito
Que venha nos ajudá
Que a negoça negoçada
Pare então de negoçá
U paulista i u minero
Gosta muito di muié
U nordestino tamém
É maluco por mulé
Bela, faceira ou formosa
É o qui todo home qué
Não importa como digam
Mulé, muié, ou mulher.
O caboclo nordestino
Chapéu de couro e jibão
Nas festas de vaquejada
Na labuta do sertão
Buscando boi na arribada
Ou tangendo na estrada
O vaqueiro de profissão
Se um cabra manga de outro
Fazendo uma gozação
O outro diz viu bichinho
Num bole cumigo não
O termo Bulliyng, creio eu
Originou-se no sertão
Tem pato no tucupi
Tem ovos de tracajá
Parentins, bumba meu boi
Lá em Belém do Pará
Caprichoso e garantido
Com foguedos divertidos
E mais, Kalipso e Fafá
Nóis cá di casa manda
Munta lembrança pro ceis
Discurpa os erros e as faia
Du meu pobri purtugueis
Cumu eu não sei iscrevê
A carta u meu fi qui feis.
Num fandango de galpão
A festança começava
Churrasqueando e chimarriando
Um orelhano balaqueava
A moracha linda prenda
Serena, o mate cevava
Enquanto isso o gaiteiro, puxava o fole da gaita
Uma prenda mui linda e um guaspa se larga num vanerão
A moracha que servia, se afasta pra ver a dança
Nisto chega um aspa torta, já um tanto borrachão
Lhe propondo a contradança, que a china sem tardança
Dá-lhe tábua, diz que não
Formou-se um grande entreveiro
Chegando um índio tropeiro e a puxando pela mão
E assim o bate coxa, tornou-se arena de guerra
Derramou sangue na terra de índio chucro, bagual
E a festança gaucha, num disparar de garrucha
Revólver espada e punhal
Mas só feridos e não morte, por tiros ou alguns cortes
Muitos foram pro hospital
E o dono da festança chiru boenacho, galdério
Com muita calma, no seu estilo e critério
Pede ao gaiteiro que toque, pra recomeçar um xote
Pra gauchada dançar
E assim recomeça a dança continuando a festança
Indo até o sol raiar
E assim falei do sul, falei, do norte e nordeste
Do centro-oeste e sudeste com essa multi-mistura
Este é o meu país, de gente sofrida, mas feliz
Com sua vasta cultura.