NO PAÍS DO FUTURO

Repartir este escárnio

sancionado por decreto.

Presenciar este saque

ao futuro.

Hastear todos os dias

esta esperança a meio-pau.

Sangrar cotidianamente

pelo País do Futuro.

No País do Futuro

erguer as mãos

até derreter os dedos.

No País do Futuro

roer a angústia

até resgatar-lhe os ossos.

No País do Futuro

sorver o asco

até resgatar o Dia

de redimir nossos mortos.

E enquanto as árvores sangram

e nós secamos

reconstruir cada dia

a floresta inverossímil da esperança.

Do livro POEMAS DE AZUL E PEDRA, Editora Mirante, 1984, com algumas alterações; republicação na manhã de 09 de agosto de 2011.