EU TAMBÉM NÃO SABIA...

"Eu não sabia"!

Que num tão castigado chão

Ainda pulsaria um aflito coração.

Qual um grito de agonia,

Entre as falas da euforia,

Um canto de comoção

Sob sórdida evasão...

Como, então, eu saberia?

Dos tantos cacos espalhados,

Aos pedaços os meus anseios!

Num cenário devastado,

A esperança de joelhos...

-Juro que também eu não sabia!

Do mundano das esquinas,

Da minha bandeira estremecida!

Da pobre criança maltrapilha!

Da droga tão guarnecida,

Do pedinte abandonado

Do estômago fidelizado!

Do doente ironizado,

Do trabalho soterrado...

Do chão negligenciado

Do inferno arquitetado.

Eu sequer imaginaria...

Que também me perderia

Na tragédia soterrada,

Pelos deuses disfarçada!

Os de perene dinastia!

Quem acreditaria?

No odor dos bastidores,

A boiar nos arredores...

Da palavra tão macia!

A esconder tantos horrores.

Eu também degustaria...

Da fala firme e traiçoeira,

Da mão que acolhe e bombardeia,

Da última esperança, a derradeira!

A sucumbir na História inteira.

Eu sequer aceitaria!

A bela Pátria tão amada

Iidolatrada e usurpada,

Soterrada em armadilha.

Sequer desconfiaria!

E sem saber eu, todavia,

No meu castigado chão

Certo dia ecoaria...

Um resto de coração.

***

A CASA

VNÍCIUS DE MORAIS

(Parafraseando nossa dura realidade, a de construção de tantas fantasias...)

Era uma casa muito engraçada, (hoje, nada engraçada!)

Não tinha teto, não tinha nada...

Ninguém podia entrar nela não!

Porque na casa não tinha chão.

Ninguém podia dormir na rede,

porque na casa não tinha parede

Ninguém podia Fazer pipi

porque pinico não tinha ali.

MAS ERA FEITA COM MUITO ESMERO

NA RUA DOS BOBOS, NUMERO ZERO.