NORDESTE, TERRA MINHA
NORDESTE, TERRA MINHA
Esta é a terra que amo,
Que me fere com garranchos ressequidos.
É o Nordeste que dorme
Sobre o lastro seco de um rio
E chora, tomba e cai
Num lugar indefeso.
É o Nordeste das cascavéis,
Do urutau agourento
Com seu canto lúgubre, funéreo.
O Nordeste...
Morena bonita da choça,
O homem encardido da roça,
O tropeiro que vara estradas,
O repentista ao som da viola.
É uma velha sentada à porta,
O choro chorado por uma criança,
O encourado que parte a galope.
O fumo da chaminé enegrecida,
O pé de milho retorcido e sedento
Olhando o céu como uma súplica.
Nordeste Chorão e cheio de histórias,
Nordeste do maculelê, das toadas,
Nordeste-menino de mãos amarradas...
Tu choras, tu cantas numa serenata.
Nordeste místico e cheio de andanças...
Frei Damião, “Padim” Ciço,
Corisco e sua esperança;
Nordeste de Fagner, Gonzagão,
De Caetano, Gil e Lampião.
Nordeste que traz a imagem de Iracema,
“A virgem dos lábios de mel”,
Nordeste que guarda Alencar
E Castro Alves em seu seio.
Terra de sóis, areias escaldantes,
Nordeste pequeno, conta tuas glórias
Na alma criança do teu povo.
Deserto de famílias escorraçadas,
Olhos chorosos, faces laceradas!
Procissão de bêbados caídos na taverna,
Mistificando-se com ironia
No pó cinzento que cobre a calçada.
Asilo de loucos!...Desvairados e secos!
Fila de filhos, braços hirtos,
Pesados passos no chão poeirento.
Passado sangrento, repleto de histórias,
De pó cinzento confundindo a sorte;
País de crianças que já não choram
Pois não têm futuro,
Só um eco cortante.
O sol, a fome, a seca lancinante
É seu nascer, sua vida, sua morte!