Índios de todo o mundo, uni-vos!
*Índios de todo o mundo, uni-vos!
Ao pintar a pele de vermelho,
de branco e cal para esconder-se
nas matas úmidas e cheirosas,
o índio se sente índio.
Ao branco, que é todas as cores,
diz o índio, sem hesitar:
- aqui, sou eu que ensino. –
e por fim, oferece-lhe flores.
O cocar Caetés enfeita e adorna.
Feita está a bonança do rio.
A cultura – ventre da natureza,
mostra-se-nos um povo sadio.
Destemido e sem Estado,
sem bandeira e sem hino,
o brasão é o território
de um continente latino.
Logo, em sua horrível nudeza,
posto entre galhos e bichos
está o índio, sólido cosmopolita.
- Eis aí sua destreza!
- Somítico é o político,
por não o ser por um segundo,
político é o somítico,
que não diversifica o mundo.
No centros de fronteira:
a unha da desunião,
as garras dos que não
zelam pela terra inteira.
O índio, com todo seu porte,
o seu Tupi, e sua lenda,
nos diz: - Não estou à venda!
De mim, não terás a morte!
Viúvo, o índio – coitado –
faleceu a natureza, enfim.
Os portugueses e bandeirantes
se vangloriam, em tal festim.
E o discurso etnocentrista
ensaia os verbos e os argumentos.
E os defensores da modernidade
se comprometem em juramentos.
Hegel, com sua ironia crua
diz para Marx e Feuerbach, então:
- Que idealismo fajuto e barato!!
O índio: que confusão! Que confusão!
- Oi, vim ensinar. – homem outro
que não o índio. Outro menino
surgiu por ali. – Aqui, nessas terras, moço,
sou eu que ensino.
E desta arte a pintura-rio,
onde um índio caça a comida,
com leve arco e um assobio,
está também defendendo a vida.
E após o ato de Tordesilhas,
com uma postura antes servil,
quisera o índio tomar a terra
que tem o nome do Pau-Brasil.
Os portugueses seriam expulsos,
e esse verso seria em Tupi,
as nossas terras teriam frutos,
e nosso herói, um Guarani.
Bugarim