Lili Marlene

Fazendo sombra no hall

Entrou a lua no elevador

As trincheiras chamavam

Não mais havia

Espelho e Narciso

Apenas o tum-tum-tum

Do coração Lili Marlene.

Os gestos lassos

Os sons dos passos

Ecoam através da

Estrela da vida inteira.

Nada. Nada a fazer

Senão ir e se perder

Lili Marlene.

Quando as coisas

Ficavam pretas

E as forças faltavam

As feras sibilavam

Na vala escavada

Do campo de batalha

O praça ferido

Lembrava Lili Marlene.

Teu abraço

Teus sorrisos

Ecoavam na memória

Como um cobertor de lã

A proteger as mágoas

E a glória vã na névoa

Negra do front

Lili Marlene.

O mundo girando

Nos raios da memória

A ferida sangra insone

Exangue o pulso ainda

Pulsa Lili Marlene.

A mulher adolescente

Ao mesmo tempo criança

Embala trôpega os sonhos

Dádiva e esperança

Do soldado agonizante

No front o olhar apavorado

Persiste silente

Agora e sempre

No abraço e no enfarto

Lili Marlene.

O dia surge tênue

E o reco atento

À linha do horizonte

Sob as luzes do front

Delira no firmamento

A manhã vê você chegar

Inusitada e sempre

Seu pulso pulsa novamente

Se cala e consome à

Lembrança Lili Marlene.

Qual guerreiro não luta

Pela vitória? Que são

Honra, hinos, medalhas

História? O sangue flui

No leito de lona. O castelo

De areia desmanchou

Ele agora só possui

A mítica sereia prenhe

Que em sua realidade

Evaporou: Lili Marlene.

Ela espera alguém

Que talvez nunca volte

Aflito, extenuado, ferido

No espelho da memória

Ele guarda a glória

Ambígua, hesitante

Os dedos perpassados

Nos pentelhos ofegantes

Lili Marlene.

Foste feliz?

Criaste os filhos

Para um mundo

Doente? Os cabelos

Embranqueceram

Sob as estrelas

E a impertinente

Garoa da vida inteira

Brilhou uma vez mais

Através dos olhos

Ardentes Lili Marlene.

Os pracinhas voltaram

Quantos a esqueceram?

A guerra acabou

Os muros caíram?

Os herois não são mais

Do que fantasmas

Quantos lembraram seu

Quarto eletrolítico

A respiração presa

(ela sofre de asma)

Sozinha numa cela na

Metrópole de lixo

Os muros de seu coração

Foram derrubados.

E ninguém jogou

Uma única flor em

Seu túmulo solitário

Lili Marlene.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010
Reeditado em 25/04/2010
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