O GRITO DE CISSO

(Sertânia,Pe, 2007)

Me alevantei-me cedinhozinho pra mode água buscá

Fui procurá o jumento, coitado, tava lá se contorceno

Pois o bichin num bebia água e num cumia direito

Fiquei sem sabê qual era que devia ser o jeito

Pra ele num cair de veiz no meu terreno

Apois, das parma qui dava pra vaca Chorosa,

Ele cumia tamém

Num fala pra ninguém,

Pois dizem qui num é bão,

Mas é qui nóis cumia tamém ...

Da lama qui cuava num pano pra minha famía

Ele bebia tamém

E ... ê tristeza ... da morte qui todo mundo todo dia morria

Ele morria tamém

Arrezorvi buscá só eu memo a água qui pudesse achá

A famia drumia com os anjos, coitada,

Entonces, fui lá pra cacimba um pouquinho mais escavucá

Incontrei a Chorosa lá pertinho, deitada

Com o focin virado pro lado da laminha

Tava meio surrino, pois colocou pra fora

Assim, da língua, um’a pontinha

Falei: ué, tu ficasse tão amiga das mosca, qui nem balança o rabo?

Óia, chorosa, berra cumigo, pro favô, mininha,

Num te mexes? Será qui a terei ofendido?

Sonha qui tô te dano uma cabeça de nabo-

Mas era tarde dimais, vaquinha Chorosa já tinha se escafedido!

Eita, quan’ fic’ lembran’

De qui tem gente rica lá nas cidade gran’

Diz, num sei se é verdade

Qui tem minino com uns tar de vídiogueimi

Qui gasta tanto dinheirin pro dia ...

Tamém já vi dizê, duns tal de caraokê

Nem se fala das TV que dizem tem umas tela

Cum tamanho qui num sei pra quê

Gastam dinheiro pra mode escurregá

Num rio dágua num tar de tobogã

Qui é qui nem uma montanha bem arta

Será qui num é crime assim tratá

O qui aqui tanto faiz farta?

Eu fico aqui cabulan’ cum meus butão

Até inventei um tiro de canhão

Se as autoridade quizesse

Faziam uma bala de gelo

Dava um tiro e a pedrona num pedacinho pelo menos aqui chegava.

Até podia ser na festa de São João

Em veiz dos pipoco normal

Nas cidade grande tivesse festa

Com pedra de gelo e com tiros de canhão!

Eu fico olhan’ pra cima

Vejo passá tanto avião

Se cada hominho qui ta lá dentro

Trouxesse um copinho dágua

E despejasse no sertão

Será qui arguma coisa ajudava?

Ou pudia tê um’a lei

Todo avião qui no Nordeste passasse

Tinha de ter uma caixa dágua

Qui poraqui esborrifasse

Pensei tamém em outras solução

Além do avião, do tiro de canhão,

Pudia ter uma nave espacial

Um satélite descomunal

Qui desse tiro de água-leise

Pra caí bem no meu quintal

Ou talveiz a gente criasse uns pombo correi

Cum ração do Gorveno,

Mandasse pra cidade grande

Eles com umas borcinha dágua mandasse de vorta

Quando o sol escaldasse o pombinho com sede

Já no sertão o paperzinho picasse

O resto da aguinha caia bem na nossa horta!

Ou pudia fazê um’a fila de home

Cada metro um home

Cada quilometro mil home

Em mil quilometro um milhão de home

Segurando um milhão de balde

Do rio São Francisco até as caixa das cidade

E a fila vai passando

Balde e mais balde

E a fila vai passando

Balde e mais balde

Matando a nossa sede

Em baixo da fila se faz horta

Em cima uma nuvem se formará

Daquilo que respingar

E no sol escaldante evaporá

Nos dando tanta satisfação

E ainda pro cima,

Imprego pra um milhão!

Qué sabê mais? Tem um’as coisa mais farcei ainda

Num adiscobriram um lago na lua?

Pois é só deixá a bicha ficá em ciminha da gente

Joga um’a mangueira correno, urgente

Desepejando água na terra nua,

Despejando água neste sertão quente!

Mais farcei ainda, e eu num tomo cachacha!

É a solução que incontrei

Na Isquadria da Fumaça!!

Ficam disperdiçano nuvem nas programação

Lá em cima dos paláço

Traiz armado um mirragi

E traiz praqui a fumaça

Dá um tiro nela

Cum um daqueles caça

E veremo o aguaço

Estas coisas são as mais fárcei de fazê

Num quero nem dizê do impossíver qui pensei

Tenho medo se ser preso

Eu te falo só em segredo

Num me dilata seu moço

Pois é das fantasia a mais estranhada ...

Eu vi dizê que debaixo de nosso torrado chão

Tem uns cobertô d’água

Pois bem ...

É que se a Petrobás viesse aqui furá um poço...

E saísse pra fora esta aguarada ...

( silêncio do óbvio)

Ouvi dizê tamém ... é segredo distado,

Qui somente 200 quilômetro

Seria a vala do rio Chico até os rio seco da gente

Eita aguarada...

Mais ... pro favô ... num digue qui falei nada!

Gedson Lidorio
Enviado por Gedson Lidorio em 02/04/2010
Código do texto: T2173784
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